quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo de extremos

Toda vez que me encontrava com Betinho, no RJ, tinha que ouvir a mesma ladainha: "não sei como vocês gostam de morar naquela terra... coisa de louco". E ria. Eu perdoava, não apenas porque Betinho era Betinho, mas porque na sala dele, no IBASE, tinha um frigobar cheio de cerveja (além da paisagem, os galhos de uma árvore que invadiam a janela da sua sala). É sempre bom ter uma cerveja a postos no calor carioca.
Outro dia, contudo, li um texto de William Nozaki que procurava analisar o conservadorismo paulistano. Um artigo que agradaria muito Betinho. Dizia o autor que a noção de caos urbano e claustrofobia alimentava a percepção de ausência de planejamento. A explosão demográfica, sugeria, alimentava, por seu turno, um sentimento que eu traduzo como xenófobo. Interessante porque há entre algumas camadas da população paulistana um forte sentimento contra migrantes nordestinos, muito mais que o nosso já conhecido racismo contra negros. Daí ganha espaço a sempre presente tentativa de "higienização social" em São Paulo. O nome do bairro Higienópolis é uma espécie de síntese deste ideário (a gana pelo saneamento de todos os tipos).
Mas há outros preconceitos que afetam uma importante vertente conservadora de São Paulo: a homofobia. Não aquela que se reproduz ao longo da silhueta do território brasileiro, mas uma homofobia violenta, reacionária, explícita, orgulhosa de si.
São Paulo é auto-referenciada. Nozaki sugere o termo "paulicentrismo".  E lista a polarização do discurso político, entre lideranças que dialogam (a favor ou contra) a xenofobia e o conservadorismo. Porque o conservadorismo é hegemônico entre paulistanos. Mas enfrenta, de tempos em tempos, uma progressista reação, tendo na inovação cultural seu mote mais nítido. Os dois discursos podem ser assim descritos:
Polarização entre:
a) Acenos ao eleitorado de baixa renda ou o de renda média e alta (atingindo muitos emergentes)
b) Tradição conservadora (apoiada no lastro deixado por Ademar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf) ou reação ressentida (como a liderada por Erundina e Marta Suplicy)
c) Combate à Pobreza ou Higienização Social
d) Repressão ostensiva ou participação popular
e) Defesa da Família Cristã ou Experimentação Cultural
f) Enclausuramento ou Ocupação (e revitalização) de espaços públicos

Este conflito tende a se agravar. Principalmente com os emergentes sociais, vorazes consumidores e profundamente ressentidos. Serão os "nordestinos" daqui por diante.
Parabéns, São Paulo!

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