domingo, 22 de janeiro de 2012

Aperto fiscal ou fomento?

O artigo de Julio Gomes de Almeida e José Roberto Afonso, que publiquei na nota anterior, dá o tom da disputa que envolve o ministro Guido Mantega. Em bela matéria especial da revista Época, Mantega indica o quanto esta disputa o incomoda. Chega a se defender afirmando que as críticas à liberação de investimentos públicos é pura "besteira". Palavra estranha ao vocabulário comedido do ministro. O ministro sugere visões absolutamente distintas, entre desenvolvimentistas e ortodoxos, nomenclatura que, antes, era definida como estruturalistas e monetaristas. O interessante é que vários hoje rotulados de ortodoxos faziam parte, no passado, do grupo dos estruturalistas. E vários então denominados monetaristas auxiliam, hoje, o governo federal. Mas pode significar que economistas não são bons na rotulação. Ou que o poder e a vaidade já superaram a capacidade de serem racionais.
Segundo Amir Khair, a diferença entre as duas vertentes pode ser assim descrita:

A primeira das vertentes, dita  ortodoxa, tem caráter mais conservador (na perspectiva do liberalismo econômico), usualmente atribuindo ao nível e ao crescimento das despesas do governo federal a causa central dos problemas que travam o desenvolvimento sustentado do País. Prega, por conta disso, o que se convencionou  chamar de Estado mínimo, para sobrar mais recursos para o setor privado, que deve ter suas regras pautadas fundamentalmente pelo mercado. Suas análises tendem a concluir que o superávit primário deveria ser ampliado para 5% do PIB, ou até mais, para garantir (aos investidores e aos mercados em geral) a capacidade de pagamento dos juros da dívida pública. Assim, para poder sobrar recursos para investimentos, prega a redução das despesas primárias (despesas correntes exclusive juros e investimentos) do governo federal.
A segunda vertente da análise macroeconômica, dita desenvolvimentista, tende a atribuir aos juros elevados a causa central do desequilíbrio fiscal  das contas públicas e do baixo investimento em infra-estrutura e outros fatores que possam facilitar ou mesmo induzir o crescimento econômico. As análises desenvolvimentistas geralmente avaliam que o processo inflacionário está hoje sob controle devido, fundamentalmente, ao nível do  câmbio, que não apenas tem influência no custo dos produtos cuja produção envolve máquinas e/ou insumos importados, como também mantêm os preços de bens e serviços das empresas locais sujeitos à forte concorrência internacional, impedindo remarcações em função da elevação da demanda, que é suprida por maior oferta dos produtores locais e/ou dos bens importados. Vê, ademais, uma baixa eficácia da política monetária na sua função tradicional de controle da demanda via taxa básica de juros (Selic), mesmo porque as taxas praticadas na ponta do tomador são muito superiores à taxa Selic, devido aos elevados spreads bancários e à baixa relação entre oferta de crédito e PIB comparativamente aos padrões internacionais.  
Agora que você leu a explicação de Khair, tudo ficou mais nítido ou mais confuso?

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